domingo, 28 de fevereiro de 2010

1.ª semana: Eles comem tudo, desde que não tenha alho


Eles comem tudo,
desde que não tenha alho


Ao que parece, alguém se enganou com o seu ar sisudo e lhes franqueou as portas à chegada: os vampiros estão em todo o lado. Na literatura, no cinema, na televisão, aparecem vampiros a toda a hora. Saiu uma antologia portuguesa de contos com vampiros, há filmes e livros estrangeiros cheios de vampiros, e quase todos os programas de televisão incluem um vampiro: nas telenovelas, lá está um vampiro; nas séries juvenis, lá está um vampiro; nas conferências de imprensa do ministro das Finanças, lá está um vampiro.

Por que razão abandonaram os vampiros a Transilvânia e vieram povoar o resto do mundo? Por uma razão artística muito forte: porque vendem. Aparentemente, o público do início do século XXI tem um interesse sem precedentes pelos vampiros - o que, diga-se, não é fácil de perceber. Os vampiros são um monstro que não inspira particular terror. São, no fundo, um monstro totó. Gostam de sangue, mas isso também os apreciadores de cabidela, e eu não tenho medo deles. Não podem apanhar sol, como as crianças que têm a pele leitosa. Têm medo de alhos, que é das fobias mais maricas que uma pessoa pode ter. E morrem se lhes espetarem uma estaca de madeira no coração. Olha que idiossincrasia tão gira. Ao contrário do que acontece com o resto de nós, os vampiros não duram muito se lhes empalarem o coração. De resto, é um facto que desejam morder-nos o pescoço, o que não deve ser agradável. Mas, se o conseguirem, transformam-nos em vampiros imortais. Que transtorno tão grande. Um monstro que, se não tivermos cuidado, nos dá a vida eterna. Há religiões que, a troco de muito dinheiro, não oferecem metade. Por mim, não me importo de ficar com os caninos um pouco maiores se é esse o preço a pagar para viver para sempre. Nem precisam de me prometer a eternidade: perante a perspectiva da morte, até aceito ficar com a dentição da Teresa Guilherme se me derem mais duas semanas de vida.

O mais surpreendente nestes vampiros modernos é o modo como a adaptação aos tempos actuais os tornou ainda menos assustadores. Apaixonam-se com muita facilidade por raparigas humanas, o que lhes agrava as olheiras. Desenvolveram uma ética que não lhes permite fincar o dente em qualquer pescoço para saciar a fome. São monstros certinhos, que querem comportar-se como deve ser para terem uma vida social igual à das outras pessoas. São uma espécie de diabético que, em vez de tomar a injecção de insulina de vez em quando, toma um sucedâneo de sangue. Não são monstros, são pessoas doentes que querem fazer uma vida normal. É aborrecido. Os vampiros da minha infância andariam por aí a morder pescoços indiscriminadamente. A estes, só lhes falta que a ASAE apareça a proibi-los de sugar artérias em restaurantes. Bananas.

Fonte: Visão, 4-02-2010

4 comentários:

  1. Concordo com o Ricardo Araújo Pereira, acho muito mau haver muitos programas, séries, etc.
    Acho que põe as crianças com uma grande fantasia, e quando crescerem é que percebem da idiotice que acreditavam quando eram pequeninos.
    Gosto das crónicas do Ricardo acho que brinca com as situações muito bem.Bananas.

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  2. Eu concordo com o Ricardo Araújo Pereira, acho muito mau haver muito programa, série, filmes, etc. As crianças(7-11 anos) gostam muito dessas coisas e isso e muita fantasia para eles.
    Gosto muito das crónicas do Ricardo, acho que ele brinca com as situações da melhor maneira. Ponha mais crónicas dele Professora!.Bananas.

    Gonçalo Livramento 10º PIG

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  3. Eu acho que o Ricardo Araújo tem razão, porque agora os vampiros estão em todo o lado, e também acho que é um mau exemplo primeiro para as crianças depois para o mais velhos, e eu não gosto nada de ver séries televisivas com vampiros, gosto muito das crónicas dele. Bananas

    Rodrigo Franco 10ºPIG

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  4. Eu penso que Ricardo está certo quando diz que os vampiros estão em todo o lado, pois já lá vão duuas séries juvenis que passam na televisão, uma na "sic", e outra na "tvi" e isso eu penso que seja uma máinfluensia para as crianças, pois o elas passam a maioria do seu tempo a ver televisão e por isso desde pequenas ficam co uma ideia errada sobre o mundo.

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